Por que a consultoria de estilo está ficando para trás?
Estou trabalhando em um dos projetos mais legais dos últimos tempos: um relatório sobre o panorama da consultoria de estilo*. E, estudando os dados desse mercado, tem uma pergunta que não sai da minha cabeça:
Como é possível que os números da moda e do mercado de beleza no Brasil sejam tão expressivos, mas os da consultoria de estilo ainda não acompanham esse crescimento?
Vou te dar alguns exemplos:
Em 2024, o mercado de beleza no Brasil movimentou cerca de 27 bilhões de dólares (US$), posicionando o país entre os cinco maiores do mundo nesse segmento.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Koin, 53,7% dos brasileiros investem entre R$ 150 e R$ 350 por mês em produtos de beleza.
Segundo um estudo do BCG (Boston Consulting Group), em 2025, os procedimentos estéticos devem alcançar um público de 50 milhões de consumidores no Brasil.
Anualmente, as famílias brasileiras gastam R$ 20,3 bilhões com serviços de cabeleireiros, manicure e pedicure. O maior volume de consumo está na classe C, com R$ 11,8 bilhões.
O valor médio de consumo das famílias da classe C corresponde a R$ 369,27 por ano. Já as famílias pertencentes à classe A são as que têm o maior valor médio de consumo, com R$ 1.310,38 por ano.
Para trazer esses dados um pouco mais para perto, basta dizer que Anna Claudia, minha cabeleireira, cobra, no mínimo, R$ 800,00 para fazer coloração global de cabelo. Em um salão como o CAB, em São Paulo, esse serviço sai, no mínimo, por R$ 450,00.
Anna Claudia cobra R$ 180,00 no corte de cabelo, e, no CAB, esse serviço gira em torno de R$ 345,00. E esses são serviços que os clientes fazem várias vezes ao ano. E notem que estou fazendo essa comparação com profissionais experientes e bem posicionados no mercado, mas que não são estrelas, nem exceção no mercado.
Eu poderia continuar trazendo dados aqui, mas acho que já deu para entender onde quero chegar, certo?
E eu sei que a gente pode e deve problematizar esse tanto de gasto com moda e beleza, mas isso fica para outro texto. O que eu quero entender aqui é:
Por que a consultoria de estilo está ficando para trás?
Por que tantas consultoras ainda têm dificuldade em vender um serviço de coloração pessoal por R$ 400,00, enquanto tem gente gastando isso por mês em salão de beleza? Sem contar as roupas e produtos de beleza – que, muitas vezes, vão ficar parados no armário?
A resposta não é simples, mas tenho algumas hipóteses embasadas nos dados do relatório.
1. As pessoas não percebem necessidade no serviço
O mercado de beleza se beneficia de um comportamento já estabelecido: todo mundo sabe o que esperar de um corte de cabelo, de uma maquiagem, de um procedimento estético. Esses serviços fazem parte da rotina e são consumidos sem grandes explicações.
A consultoria de estilo, por outro lado, ainda precisa educar o público sobre seus benefícios e demonstrar seu impacto a longo prazo. A maioria das pessoas não entende como um serviço que parece tão abstrato pode trazer mudanças concretas na imagem pessoal, na autoestima, no consumo e na forma de se vestir.
E quando as pessoas não entendem um serviço, elas simplesmente não compram.
2. Profissionais pouco preparados para o mercado
A consultoria de estilo tem muito potencial, mas o número de profissionais realmente capazes de estruturar um negócio sólido e acompanhar as mudanças do setor ainda é pequeno**.
Muitas consultoras trabalham de forma amadora, sem processos claros, sem um posicionamento de mercado e sem um modelo de negócio viável – e não sou eu que estou dizendo isso, são os dados do relatório.
Isso cria um ciclo vicioso: serviços desvalorizados, baixa recorrência e uma dificuldade crônica de expandir a área.
O mercado não cresce porque, em grande parte, as próprias profissionais não estão preparadas para fazê-lo crescer.
3. O apelo emocional e cultural do mercado de beleza é mais forte
Beleza e estética fazem parte do cotidiano das pessoas. Cortar o cabelo, fazer as unhas ou comprar um creme não são só ações práticas – são experiências carregadas de emoção, rituais de cuidado e pertencimento.
A consultoria de estilo ainda não conseguiu se conectar emocionalmente com o público da mesma forma. Muitas vezes, é vendida de forma técnica e distante, como um conjunto de regras sobre o que pode ou não pode vestir.
Só que ninguém quer pagar para ser enquadrado em regras que não dizem muita coisa.
Como eu sempre digo, a cliente não vai pagar por um serviço só para saber se verde combina com azul. Mas ela vai pagar se entender que vai se sentir mais confiante no trabalho sem precisar abrir mão do que gosta.
Se ela perceber que vai parar de gastar dinheiro com roupa e, mesmo assim, continuar achando que não tem nada para vestir, ela compra.
As pessoas não compram o blush da Rhode só porque a cor é bonita – mas porque acreditam que isso as coloca em um grupo seleto de pessoas tão cool quanto a Hailey Bieber.
O que as pessoas querem – e isso os dados do relatório deixam claro – é um serviço que ajude na construção de identidade, na autenticidade e na expressão pessoal.
Ou seja, a consultoria de estilo precisa se reposicionar urgentemente.
4. As pessoas entendem os benefícios de fazer botox. Mas não entendem os benefícios da consultoria de estilo.
E isso é um problema de comunicação.
Quando alguém corta o cabelo ou faz um procedimento estético, os benefícios são tangíveis e imediatos. Na consultoria de estilo, os benefícios são mais profundos, mas nem sempre são comunicados de forma clara e envolvente.
Além disso, a consultoria foi muito mal vendida nos últimos anos. Muitas profissionais comunicam o serviço de forma excessivamente técnica, transformando a experiência em um manual de certo e errado.
Isso não só desvaloriza o trabalho, como também afasta potenciais clientes que não querem um serviço engessado e antiquado.
5. Os profissionais da beleza aproveitam o apelo do mercado de beleza. Os de consultoria, não.
Veja bem, grande parte do apelo do mercado de beleza não é construído por profissionais autônomas, empresárias e empreendedoras, mas pelas grandes indústrias que investem fortunas em marketing.
Acontece que esse apelo também se espalha para as profissionais da área.
A consultoria de estilo poderia se valer do apelo da moda – outra indústria bilionária e mestra em gerar desejo.
Mas, não.
Consultoria de estilo (a tradicional, pelo menos) e moda raramente se misturam.
Seja porque a consultora insiste em dizer que não pode usar preto com vermelho, mesmo quando só tem isso nas passarelas e lojas.
Seja porque a consultoria de estilo ainda é pautada numa lógica do vestir dos anos 80, que já não faz sentido na realidade de 2025.
O potencial do mercado existe – o que falta agora é transformar essa oportunidade em demanda real.
E isso começa com a forma como as próprias consultoras encaram e vendem o seu trabalho.
*Este relatório faz parte de uma pesquisa inédita sobre o panorama da consultoria de estilo no Brasil. Estamos analisando dados sobre o mercado, os desafios enfrentados pelas profissionais da área e as oportunidades de crescimento do setor. Se você já é uma Stylebreaker, terá acesso a esses dados. Se ainda não é, fique de olho nas minhas redes que, em breve, vou explicar como você pode adquirir o relatório.
**Se você é (ou estar pensando em se tornar) consultora de estilo, mas está com essa sensação de que você não está preparada para estruturar um negócio sólido ou para acompanhar as mudanças do setor, eu tenho uma boa notícia. Estamos com inscrições abertas para as Stylebreakers! A plataforma que foi criado pensando em elevar o mercado de consultoria, formando profissionais atualizadas e estratégicas, que conseguem se posicionar no mercado. Mas corre porque é por limitado. Para se inscrever ou saber mais, basta clicar aqui.
Puxando muito a sardinha para o meu artigo na Stylebreakers (a Revista), eu não tinha em mãos os mesmos dados que você Carol vem gentilmente compartilhando através da sua pesquisa... mas compartilho do mesmo sentimento de "puta q p..." hahahah
Fazendo a Xuxa, eu sinto constantemente que "Não tem cliente pra mim no Brasil". E não duvido que este seja o sentimento de potenciais clientes que tenham uma dúvida de estilo nessa internet. Acredito que ‘vícios’ do mercado da consultoria - que estão aí desde os anos 80 - tem gerado esse abismo entre consultoras como eu e você e os clientes.
Admito que seja bem possível que a minha cliente ideal não precise de consultoria de estilo. E citando a nossa amiga Paula Rafaela (@modacompaularafaela) ‘quem busca “encontrar o seu estilo” quer, em alguma medida, se adequar socialmente’. E quem compra o meu discurso – que, em geral, vende conforto e celebra o que a pessoa já é – possivelmente já está bem resolvido com estilo e não pega na comunicação o que está além.
Acho que estamos dando migalhas dessa informação na nossa comunicação. A consultoria de moda vai muito além de estilo, mas estamos guardando este segredo conosco... :(